30 de março de 2025

Os Mahatmas e a Cristandade

 
O Chohan Fala Sobre a Mística Cristã, 
e  Avalia a Condição Moral do Mundo
 
Carlos Cardoso Aveline
  


A edição brasileira de “Cartas dos Mestres
de Sabedoria”, e uma imagem popular de Cristo 


* O Maha-Chohan é um Mahatma ou Adepto mais elevado, a quem os mestres espirituais de Helena P. Blavatsky reverenciam como seu mestre. Alguns estudantes se referem a ele como “mestre dos mestres”. A Carta 01 de “Cartas dos Mestres de Sabedoria” [1] reproduz o documento geralmente conhecido como “Carta do Maha-Chohan”. Trata-se de uma carta de 1881, escrita por um Mestre de Sabedoria que narra o que o Maha-Chohan disse quando consultado sobre o dharma e o dever do movimento teosófico moderno, fundado quase sete anos antes, em 1875.

* O documento é visto por estudantes experientes como um dos textos teosóficos mais importantes de todos os tempos. O mestre faz críticas severas às religiões dogmáticas, mas expressa uma visão positiva sobre o Cristianismo Místico e as tradições de sabedoria interior presentes nas diferentes religiões.  

* O Chohan afirma: “O Cristianismo místico, isto é, aquele Cristianismo que ensina a autolibertação através do nosso próprio sétimo princípio [2] - o Para-Atma (Augoeides) libertado, chamado por alguns de Cristo, por outros, de Buda, e equivalente à regeneração ou renascimento em espírito - será visto como exatamente a mesma verdade do Nirvana do Budismo. Todos nós temos de nos livrar de nosso próprio Ego, o ser ilusório e aparente, a fim de reconhecer nosso verdadeiro ser em uma vida divina transcendental. Mas, se não formos egoístas, devemos esforçar-nos e fazer com que outras pessoas vejam essa verdade, e reconheçam a realidade desse ser transcendental, o Buda, Cristo ou Deus de cada pregador.”

* E o que se pode pensar da situação moral da humanidade? O mestre reproduz as palavras do Chohan: “Para serem verdadeiras, a religião e a filosofia têm de oferecer a solução de todos os problemas. Que o mundo esteja moralmente em tão má condição é uma evidência conclusiva de que nenhuma de suas religiões e filosofias, aquelas das raças civilizadas menos do que qualquer outra, jamais possuíram a verdade.” (Parágrafo final da Carta.)

* As palavras “raças civilizadas”, no trecho acima, são uma referência às nações materialmente mais ricas do Ocidente, isto é, os países colonialistas e neocolonialistas que se apresentam como “a polícia do mundo” e fabricam guerras para impor o seu poder.

* O fato de que o movimento teosófico começou a fracassar no terreno da Ética ainda enquanto HPB estava fisicamente viva pode ser constatado lendo o artigo “A Autocrítica de Helena Blavatsky”. É fácil, portanto, compreender que a tarefa central dos teosofistas no século 21 inclui enfrentar e realizar a tarefa que agora desafia a humanidade, porque a moralidade é a arte de plantar bom Carma, e todos devem fazer por merecer, antes de desejar progresso espiritual.

* A Carta do Maha-Chohan faz um alerta em um dos seus primeiros parágrafos: “Entre a superstição degradante e o ainda mais degradante e brutal materialismo, a pomba branca da verdade dificilmente encontra um lugar onde possa descansar seus pés desprezados e exaustos.”

* Algumas linhas mais adiante o Chohan acrescenta: “As doutrinas fundamentais de todas as religiões se comprovarão idênticas em seu significado esotérico, uma vez que sejam desagrilhoadas e libertadas do peso morto representado pelas interpretações dogmáticas, dos nomes pessoais, das concepções antropomórficas e dos sacerdotes assalariados. Osíris, Krishna, Buda e Cristo serão apresentados como nomes diferentes de uma mesma estrada real para a bem-aventurança final, o Nirvana.”

* O fato de que há muitas ideias centrais em comum entre o cristianismo místico e os Mestres de Sabedoria do Oriente fica claro também na Carta 02 da primeira série em “Cartas dos Mestres de Sabedoria”: “Sejam verdadeiros, leais a suas promessas, ao seu dever sagrado, ao seu país e a suas próprias consciências”, diz a Carta. E o mestre acrescenta: “Sejam tolerantes com os demais, respeitem os pontos de vista religiosos dos outros, se desejam que os seus próprios sejam respeitados.”

* Num pós-escrito à mesma carta, o mestre menciona a necessidade de autopurificação e perdoa os erros pessoais dos estudantes. Ao referir-se ao dever moral de cada peregrino, o instrutor usa palavras que são ouvidas com frequência em círculos cristãos, como pecado e perdão:

* “Que nenhum Carma adicional seja atribuído àqueles que pecaram no ano que passou, em pensamento bem como em ação. Pessoalmente estão perdoados. Que um novo ano e novas esperanças iniciem para eles.”

NOTAS:

[1] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, transcritas e compiladas por C. Jinarajadasa, Editora Teosófica, Brasília, 1996, 295 páginas. Ver carta 1, primeira série, pp. 17 a 22. A Carta do Maha-Chohan está disponível nos websites da Loja Independente de Teosofistas.

[2] Os mestres de sabedoria com frequência se referem aos sete princípios da consciência humana, porque eles nos permitem compreender a ligação entre os seres humanos e a vida cósmica. Sobre este tema central - largamente ignorado em pseudoteosofia - leia os artigos “Os Sete Princípios da Consciência”, “Os Sete Princípios do Movimento”, e “A Ponte Entre Céu e Terra”.

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O artigo acima foi publicado como item independente nos websites da Loja Independente de Teosofistas no dia 30 de março de 2025. Uma versão inicial do texto faz parte da edição de julho de 2023 de O Teosofista, ainda sem indicação do nome do autor e sob o título de “Ideias ao Longo do Caminho”. 

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Leia mais:












* Examine nos websites da LIT a seção temática sobre Cristianismo e Teosofia.

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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.

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21 de março de 2025

O Teosofista - Março de 2025

 




A edição de março abre com a ideia de que, cedo ou tarde, O Movimento Teosófico Abandonará os Falsos Rituais.

Em outros termos, os teosofistas resgatarão a proposta de trabalho de Helena Blavatsky e dos Mestres, deixando para trás as fantasias pseudoclarividentes, assim como os mestres imaginários e os ritualismos de imitação.

A ideia se baseia em algumas palavras de H. P. Blavatsky.   

Na página dois, o teosofista mexicano José Ramón Sordo escreve sobre o “Rito Egípcio” da Sociedade de Adyar, que, como se sabe, nada tem a ver - além do nome - com a maçonaria egípcia de Cagliostro.

Segundo Ramón, o ritual é “uma espécie de baile de máscaras ou carnaval”, onde membros da Escola Esotérica se vestem de egípcios para realizar um rito que é “metade maçônico e metade missa católica”.

A página quatro traz “Março de 2025: Uma Chave de Leitura Para Compreender o Mundo”. As páginas sete e oito apresentam os poemas “Parem as Guerras Todas” e “Parar a Guerra”, de Swami Sivananda.

Veja outros temas de março:     

* A Vitória do Amor à Vida.   

* Donald J. Trump: o verdadeiro perigo não é a Rússia.

* Na Ucrânia, os Fatos Derrotam a Propaganda.

* Alcance a Paz Definitiva (um poema de Swami Sivananda sobre Atma).

* O Dinheiro e a Paz (poema de Swami Sivananda).

* Caminho Espiritual: Sabedoria Eterna é o Melhor Refúgio.  

* Ideias ao Longo do Caminho: a Guerra é Uma Forma de Psicose, Mas Construir a (Verdadeira) Paz Produz a Cura.

* Quatro Aspectos da Nossa Civilização. A Proposta Globalista e Autoritária, que Gosta de Fabricar Guerras, Fracassou. Artigo de Joana Maria Ferreira de Pinho.

* Os Fatos que a Mídia do ‘Deep State’ Não Mostra - Um país inteiro (a Ucrânia) foi iludido e usado como carne de canhão numa guerra absurda. Um filme de Oliver Stone, o grande diretor de cinema.

Com 28 páginas, o Teosofista inclui a lista dos itens publicados recentemente nos websites da LIT.



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A edição acima foi publicada no dia 21 de março de 2025.       

A coleção completa de “O Teosofista” está disponível nos websites associados.

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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.

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18 de março de 2025

Automatismo - os Auxiliares da Vontade

 
O Homem é Dominado por uma Inquietação,
Ele Busca um Aperfeiçoamento Sempre Maior
 
Jean des Vignes Rouges




… Educar a vontade consiste, antes de tudo,
em determinar de que modo você se comportará
na vida, e depois, em produzir automatismos capazes
de colocar em prática fielmente essa decisão.



A sua vontade funciona como a vontade de um chefe que nunca sai do seu posto de comando e permanece dando ordens o tempo todo?

Se for assim, sua vida será um inferno repleto de esforço e preocupações. Você vai sucumbir à tarefa! Quem quer fazer o papel de anjo, termina se comportando como uma fera. Ao querer demais, acabamos sendo incapazes de querer.

Dê, portanto, à sua vontade, auxiliares nos quais ela possa confiar. Se ela tiver um exército de subordinados à sua disposição, você será um general poderoso. Esses servidores da vontade são os seus automatismos.

No artigo sobre “hábito” [1], eu digo como você pode recrutar e treinar esse exército; mas é importante que você saiba como lidar com ele.

Esses automatismos são como trabalhadores especializados que conhecem bem a sua missão e não gostam que o chefe esteja constantemente interferindo no que fazem.

Você sabe que esse tipo de monitoramento excessivo e irritante tem o efeito de prejudicar o desempenho. O mesmo ocorre com os seus hábitos profundamente enraizados; toda intervenção inoportuna da consciência pensante perturba o trabalho deles. Por exemplo, você precisa ter uma conversa importante na qual deve demonstrar facilidade, inteligência, educação e autoridade? Se você quiser controlar cada palavra, cada tom de voz, cada gesto, é muito provável que pareça desajeitado, sem graça, indelicado e brutal. Você terá perturbado o funcionamento dinâmico dos seus reflexos.

O acrobata, o ginasta, o ciclista, o esgrimista, a boa trabalhadora com tricô, etc., conhecem bem esse fenômeno, por isso evitam pensar nos detalhes de seus movimentos. Faça como eles. Com uma condição, porém; os seus automatismos devem estar bem treinados, bem amestrados, e em boa forma.

Ao confiar assim em seus hábitos da mesma forma que um general confia em seus soldados e oficiais, você fará uma notável economia de esforços. Se, por exemplo, você desenvolveu uma reação automática ao catarro, você permanecerá calmo não importa o que aconteça, sem precisar ranger os dentes ou ficar tenso. Da mesma forma, todas aquelas atitudes mentais e corporais que chamamos de prudência, concentração, ordem, moderação, honradez, severidade ou tolerância, etc. serão mecanismos sempre prontos para funcionar se você tiver tido o cuidado de “estabelecê-los” de modo correto em sua alma. Eles estão em posição de sentido, aguardando as ordens da sua vontade, e prontos para entrar em ação ao menor sinal.

Melhor ainda, pode acontecer que esses automatismos tomem a iniciativa de entrar em ação quando necessário. O boxeador, alvo de um ataque repentino, se vê em “posição de combate” e dando socos antes que sua consciência tenha tempo de deliberar.

Da mesma forma, os automatismos que o levam a ser leal, orgulhoso, metódico, dedicado, engenhoso, etc. não esperarão ordens da sua vontade para se colocarem em movimento quando as circunstâncias o exigirem; eles “avançarão” por conta própria, rapidamente, sem perda de tempo. 

Por que os automatismos terão esse zelo e essa vivacidade? Porque, na intimidade das células nervosas que constituem o seu sistema fisiológico, os impulsos nervosos se acumularão, impacientes para serem libertados; as suas virtudes precisarão expressar-se na prática, assim como o campeão de futebol precisa chutar uma bola. Exatidão no modo de agir, economia de esforço, ação mais rápida, desempenho quase instantâneo - esses são os benefícios que você obterá com o bom funcionamento dos seus automatismos.

É por isso que eu digo a você de novo: educar a vontade consiste, antes de tudo, em determinar de que modo você se comportará na vida, e depois, em produzir automatismos capazes de colocar em prática fielmente essa decisão. Se você tivesse êxito completo nesse treinamento aconteceria que, a longo prazo, você não precisaria mais desejar; toda a sua personalidade, corporal e espiritual, passaria a ser a sua vontade encarnada.

Na realidade, porém, o homem é dominado por uma inquietação que o impele a superar-se. Ele busca uma perfeição sempre maior, de modo que a tarefa de produzir novos automatismos não é completada jamais. 

Por outro lado, por mais bem treinados que sejam os seus automatismos, você ainda precisa exercer vigilância para que eles não se tornem rotina [2], o que é sempre a tendência.  

A vontade, portanto, nunca deve abdicar completamente do seu poder. O papel da vontade é comandar sem intransigência, sem abuso, sem brutalidade ou gritos incessantes, mas também sem indolência. Ela fica feliz em deixar os detalhes da execução para os automatismos, porque sabe que uma tarefa tediosa e pouco importante deve ser feita pelo soldado de segunda classe e não pelo general; mas ela verifica de vez em quando se essa tarefa foi realmente feita.

Em outras palavras, é correto ver os seus automatismos como instrumentos para obter os seus objetivos. Use-os, confie neles. Isso libertará sua vontade, que assim terá tempo para pensar em seu aperfeiçoamento. Mas, enquanto olha a paisagem e reflete sobre o seu destino futuro, mantenha a mão no volante da direção e o pé no acelerador.

NOTAS:


[2] Veja a palavra “Routine” em «Dictionnaire de la Volonté».

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O artigo acima foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas no dia 18 de março de 2025. Trata-se de uma tradução do livro «Dictionnaire de la Volonté», de Jean des Vignes Rouges, Éditions J. Oliven, Paris, 320 pp., 1945, pp. 35-37. O artigo original em francês está disponível online: “Automatisme - les Subordonnés de Votre Volonté”. Tradução: Carlos Cardoso Aveline.

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Amplie os seus estudos e prepare-se para vencer:  




* Outros escritos de Jean des Vignes Rouges.

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Jean des Vignes Rouges é o pseudônimo literário do militar e escritor francês Jean Taboureau (1879-1970).

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10 de março de 2025

Theodoro D’Almeida - Confiar na Vida

A Felicidade Não Está em Fugir do
Sofrimento, Mas em Ser Maior do que Ele 
 
 Carlos Cardoso Aveline
   



O livro “O Feliz Independente”, de Theodoro D’Almeida, é uma obra-prima da literatura e da filosofia em língua portuguesa.

Romance filosófico publicado em Lisboa em três volumes em 1786, a narrativa propõe a felicidade como um processo estoico de confiança na vida. Ensina que não se deve dar demasiada atenção às dificuldades e sofrimentos do eu inferior.

A dor, conforme Almeida demonstra, serve para empurrar-nos na direção da sabedoria. A felicidade não está em fugir do sofrimento, mas em ser maior do que ele, e eliminar dentro do possível as suas causas, adotando um estilo de vida simples, sem grandes pretensões.

Um ponto central para Theodoro D’Almeida (1722-1804) é que devemos ter confiança na Lei do Carma e do Equilíbrio, a Lei única do Universo, que ele chama de Providência e de Deus.

A Providência não é cega. Ela guia de modo eficiente o processo evolutivo inteiro. Na vida nada ocorre ao azar. Cabe, portanto, fazer o melhor e confiar na Lei.

Em determinado momento, um dos personagens centrais da obra, Misseno, diz a dois amigos:

“Meus filhos, crede que muito mais deve cuidar em nós a Providência, do que cuida no seu filho tenro qualquer mãe amorosa; porque nós mais somos de Deus, Autor do nosso Ser, que dos pais, que somente foram os instrumentos. A Mão Todo-Poderosa foi quem tirou do insondável abismo do nada este espírito, que nos anima; e ela foi quem por uma série de maravilhas encadeadas, até agora incompreensíveis aos maiores Sábios do mundo, coordenou os órgãos do nosso corpo, e formou estes membros, de que gozamos. O seu poder nos protege, a sua força nos sustenta, a sua lei nos guia, a sua beneficência nos favorece, a sua liberalidade nos regala. E credes que se nos entregarmos ao seu paternal cuidado, a sua Providência se descuidará?” [1]

O Mantra do Contentamento

Para Theodoro, “Deus” não está situado exclusivamente fora do ser humano. O mundo divino e a fonte da felicidade são realidades tanto internas como externas. E só podem ser encontrados no universo externo se forem percebidos antes em nosso interior, ou, no mínimo, ao mesmo tempo dentro e fora de nós. Daí a ideia da onipresença do mundo sagrado. Podemos não percebê-la, mas ela existe. A energia divina está por toda parte, porque está presente em cada átomo, conforme ensinam a teosofia e as principais religiões.  

Em determinado momento Theodoro aborda o mistério da confiança através de versos que funcionam como um mantra. E arremata a explicação com uma nota de rodapé. Antes de ver o poema, cabe lembrar que em teosofia “Deus” significa não só a Lei Impessoal e Suprema do Universo, mas também a nossa própria alma espiritual:

“Se de Deus é que nasce qualquer bem,
A alegria que busco, de onde vem?
Não está longe de mim [2], não vem de fora,
Vem do meu coração, onde Deus mora,
Dentro em mim tenho Deus, e tenho a Graça,
Tenho a Lei. Que me faz qualquer desgraça?” [3]

Não por acaso o poema termina com a ideia teosófica da Lei.

A “Escada Para o Céu” do Mundo Lusófono

“O Feliz Independente” é um ponto alto do Iluminismo português, mas não só português. Quando o romance foi publicado, Portugal era também Brasil, era Angola, era Moçambique e todo o mundo lusófono. A obra fez sucesso em outros idiomas, sendo um best-seller clássico na Espanha, com mais edições em espanhol que em português.

Portugal é hoje e continuará sendo o principal centro histórico e espiritual do mundo da língua portuguesa. Cedo ou tarde a importância deste fato será reconhecida em Portugal e nas outras nações lusófonas. Basta acordar do pesadelo materialista-consumista e das ilusões tecnocráticas, cuja influência atual tem mais de um aspecto desumanizante.

A filosofia cristã e clássica de Portugal - a filosofia vista como sabedoria vivencial e como arte de viver - é das mais ricas da Europa e portanto do Ocidente. Constitui um antahkarana coletivo para a comunidade das nações de língua portuguesa, uma “escada para o céu” que surge da nossa própria cultura e está alicerçada em nossa essência e nossa história.

Pensadores como São Martinho Bracarense e Pascácio de Dume, como o franciscano Santo António (de Lisboa e Pádua), como Álvaro Gomes, Frei Heitor Pinto, Leão Hebreu, Antônio Vieira, Manuel Bernardes, Diogo de Paiva de Andrade, Theodoro D’Almeida e outros, lidos a partir da visão de mundo de Helena Blavatsky, adquirem uma dimensão luminosa no passeio dos séculos. E suas obras são reconhecidas como instrumentos práticos na construção de um futuro saudável.

A tarefa de alcançar coletivamente a luz espiritual é difícil. E se não fosse difícil não haveria mérito. Em toda construção, uma ideia-chave é ter confiança. Não vale a pena deixar-se hipnotizar por este ou aquele obstáculo que as energias negativas querem, talvez, que consideremos “intransponível”.  

A prudência cumpre papel fundamental, mas o medo supersticioso é desnecessário, assim como o rancor e a inveja. O otimismo de D’Almeida abre as portas para o futuro e é especialmente necessário no século 21.

Um pouco de coragem não faz mal a ninguém.

Quando abrimos os olhos, ganhamos discernimento e passamos a confiar na vida. As derrotas servem para aprender lições e fortalecer a vontade. Neste sentido, a alma espiritual não perde batalha alguma, mas as ganha todas.

NOTAS:

[1] “O Feliz Independente do Mundo e da Fortuna, ou a Arte de Viver Contente em Quaisquer Trabalhos da Vida”, romance filosófico de Theodoro D’Almeida, membro da Congregação do Oratório, Lisboa, Regia Officina Typografica, 1786, obra em três volumes, ver volume I, pp. 161-162.

[2] Aqui, uma nota de rodapé de Theodoro convida o leitor a ler Atos, 17: 27-28: a divindade não está longe, nela nós vivemos, nela nos movemos, nela existimos. A ideia é cem por cento teosófica e blavatskiana.

[3] Esta oração e mantra é reproduzida de “O Feliz Independente do Mundo e da Fortuna”, de Theodoro D’Almeida, obra citada, volume I, pp. 99-100. A ortografia foi atualizada.

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O artigo “Theodoro D’Almeida - Confiar na Vida” reúne material publicado inicialmente nas páginas 1 a 3 da edição de maio de 2024 de “O Teosofista”, sob os títulos “Confiar na Lei, Confiar na Vida” e “O Mantra do Contentamento”. O oratoriano Theodoro D’Almeida (foto) viveu de 1722 a 1804.

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Leituras recomendadas:

* Corpo e Alma, Cavalo e Cavaleiro (texto de Theodoro D’Almeida).


* Regra da Vida Honesta (tratado estoico clássico de Martinho Bracarense).





* João de Deus, Louco, Santo, e Sábio (Como a Ruptura da Rotina Psicológica Pode Abrir as Portas Para a Vida Mística).

* Examine a Seção Temática Cristianismo e Teosofia.

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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 

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9 de março de 2025

Corpo e Alma, Cavalo e Cavaleiro

 
Cabe à Alma Treinar e Controlar
o Corpo Físico e as Suas Emoções
  
Theodoro D’Almeida
  
Theodoro D’Almeida, nascido em 7 de janeiro de 1722, e a página de abertura
de “O Feliz Independente”, uma obra-prima da literatura e da filosofia lusófona



Em todos os povos há leis, em todos há conselhos, e amigáveis avisos; logo há liberdade para segui-los. Que nação existiu jamais no Mundo tão bárbara, onde não houvesse castigo para o mal, prêmio para o bem? Mas seria tudo inútil, se por um cego ímpeto cada um fosse arrastado para este ou aquele objeto pela paixão que o domina.

A nossa alma em relação ao corpo é como o cavaleiro em relação ao animal em que vai montado. Se o animal é manso e bem ensinado, com descanso vai andando o cavaleiro, sem fadiga, nem grande problema pela estrada direita. Se o animal é rebelde e furioso, muito trabalho terá o cavaleiro; mas também glória e merecimento, se impedir que se desmande.

Pouca dificuldade tinha o homem para caminhar direito, quando saiu das Mãos de seu Autor, tendo então sujeitas e domadas todas as paixões do ânimo, todos os apetites dos sentidos. Não estavam então todas as paixões mortas, mas domadas: e quando a rédea da Razão acenava ligeiramente, o apetite logo obedecia: assim maior foi o seu crime então, e menos desculpável a sua culpa, porque era muito mais fácil que obrasse como devia.

Porém depois da rebelião dos sentimentos, é que o cavaleiro tem necessidade de vigilância, de força, de estudo, e de constância para impedir a sua ruína. Não tem culpa o cavaleiro nos saltos impetuosos que o animal dá ao princípio, ou quando inesperadamente se espanta; nem também é culpável o homem nos primeiros movimentos, quando sem dar tempo à Razão os humores obram o que a razão impediria: mas uma vez que a Razão abriu os olhos, deve com toda a força ter a rédea segura, puxar a rédea, subjugar o animal a todo o custo; e isto ainda que o cavaleiro se canse, trabalhe, e sue; porque ele trabalha para si e trata de evitar a morte, ou o perigo dela [o que ocorreria] se frouxamente se deixasse arrastar pelo furioso cavalo: por isso toda sua fadiga é bem empregada; e maior glória terá, e maior merecimento.

Embora o preguiçoso frouxo que não quer fatigar-se domando as suas paixões diga que elas o arrebatam e largue as rédeas ao animal que o leva, a sua queda e ruína serão o castigo da sua indigna preguiça. E os outros, que vão ao seu lado, subjugando com estudo, cuidado e força os animais das suas paixões, talvez mais furiosas, esses que as conduzem pelo caminho direito, sem lhes permitir saltar fora da estrada para os barrancos, que já de um, já de outro lado se oferecem, eles serão a sua condenação, a sua afronta, e a da sua inútil doutrina.

Que é o que louvais nos Heróis? Acaso é o seguirem as suas paixões? Isso faz qualquer animal. Qual é portanto o seu merecimento, que tanto vos obriga aos louvores? Que é o que justamente ocupa todos os clarins da fama? Será o terem obrado bem, não tendo paixões que vencer? Mas que merecimento é esse? Vencer sem batalha, triunfar sem inimigo? Vedes logo que para o louvor de Heróis me é preciso obrar bem, vencendo nisso grandes dificuldades; e que na grande dificuldade, que nos oferecem as nossas paixões furiosas, é que consiste o merecimento dos Heróis da Filosofia e da Virtude.

Negai a liberdade, e eu da parte da Boa Razão vos proíbo desde este momento de louvar a ninguém; e de condenar qualquer procedimento. Louvareis vós por ventura o Sol, quando saindo do Horizonte derrama com as suas luzes as benéficas influências sobre a face da terra? Ou condenareis a Noite como criminosa, porque com o seu tenebroso manto protege os crimes, e vos rouba a vista, deixando-vos quase cego, quando tendes olhos perfeitos? Quem não acharia ridícula a vossa cólera contra os trovões e os raios; ou as vossas políticas adorações ao zéfiro brando, que vos recreia, sendo todos esses movimentos uma consequência cega e necessária da ordem do Universo? Pois outro tanto devemos dizer do que fazem os homens se neles não há liberdade; porque sem ela nem merecem os nossos louvores, nem o menor vitupério.

O Cocheiro, o Cavalo e a Carruagem

As paixões, amigos, são, como já vos disse, semelhantes aos animais: domadas, servem para nos dar satisfação; rebeldes e soltas, só servem para a nossa ruína. Se o cocheiro frouxo e negligente larga as rédeas aos animais, porque os considera indômitos e furiosos, que efeitos pode esperar da sua frouxidão e preguiça? A carruagem vai sem governo e corre precipitada; lá se inclina, lá cai, lá vai o cocheiro sendo arrastado, os cavalos passam por cima dele, as rodas lhe passam por cima, e lá o atiram atropelado, ferido, e morto. Quanto melhor teria sido manter as rédeas firmes, e domar (ainda que lhe custasse) os animais? Meus amigos, sempre os danos que nos acontecem, quando deixamos as nossas paixões correrem à rédea solta, são muito maiores que o trabalho de refreá-las, e assim, ainda que fosse apenas para nos poupar de grandes desgostos, deveríamos sempre governar pela razão as nossas paixões e apetites.

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O texto acima foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas no dia 09 de março de 2025. Trata-se de uma reprodução do livro “O Feliz Independente do Mundo e da Fortuna, ou a Arte de Viver Contente em Quaisquer Trabalhos da Vida”, Volume II, de Theodoro D’Almeida, da Congregação do Oratório, Lisboa, Officina Typografica de Antonio Rodrigues Galhardo, 1786. Ver páginas 158-161 e, para o parágrafo final, página 196. Na transcrição, palavras de uso antigo e hoje pouco compreensíveis foram substituídas por sinônimos atuais. A obra tem três volumes. A ortografia foi atualizada. (CCA)

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Leia mais:








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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 

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