18 de novembro de 2015

Para Fortalecer a Vontade

Textos e Fragmentos Sobre  Uma  Tarefa  Decisiva

Helena P. Blavatsky

Busto de H. P. Blavatsky (1831-1891), feito por Alexey Leonov


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Nota Editorial:

O material que traduzimos a seguir merece ser lido uma
e outra vez, de  modo calmo e reflexivo. O tema não é fácil: o
estudante deve lembrar  que enquanto a intenção não for pura e
elevada, é melhor que a vontade seja fraca. Assim, pelo menos,  a
derrota e a queda serão menores. Antes que a intenção se fortaleça,
ela deve ser responsável, constante,  e deve estar definitivamente
voltada para o mundo do altruísmo e da verdade universal.  Toda
 intenção vitoriosa é  inseparável  da ética e da fraternidade.

(Carlos Cardoso Aveline)

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1. A Vontade e o Desejo

A vontade é uma posse exclusiva do ser humano neste nosso plano de existência. Ela o distingue do animal, no qual só o desejo instintivo está desperto.

O Desejo, no seu significado mais amplo, é a força criativa única do Universo. Neste sentido, não há diferença entre ele e a Vontade; mas nós, seres humanos, nunca conhecemos esta forma de Desejo enquanto somos apenas humanos. Portanto, a Vontade e o Desejo são considerados aqui como conceitos opostos.

Assim, a Vontade é fruto do que é Divino, do Deus no ser humano; o Desejo é a  força  que movimenta a vida animal.

A maior parte dos humanos vive no desejo e através do desejo, confundindo-o com a vontade. Mas aquele que quiser vencer deve separar a vontade do desejo, e fazer com que sua vontade predomine; porque o desejo é instável e muda o tempo todo, enquanto a vontade é firme e constante.

Tanto a vontade como o desejo são absolutamente criadores, e formam o ser humano e também o ambiente ao seu redor.  Mas a vontade cria de modo inteligente, e o desejo cria de modo cego e inconsciente. O homem, portanto,  faz a si mesmo à imagem dos seus desejos,  a menos que ele crie a si mesmo segundo o modelo do que é Divino, através da sua vontade, que é um produto da luz.

A tarefa do ser humano é dupla: despertar a vontade, para fortalecê-la pelo uso e pela vitória, torná-la capaz de governar com poder absoluto em seu corpo; e, ao mesmo tempo, purificar o desejo.

O conhecimento e a vontade são os instrumentos para obter esta purificação. [1]

2. O Desejo Purificado

Quando o desejo busca o que é puramente abstrato, quando o desejo perdeu todo traço ou tonalidade de “eu”, então ele tornou-se puro.

O primeiro passo para essa pureza é eliminar o desejo pelas coisas materiais, já que elas só podem ser apreciadas pela personalidade separada. 

O segundo passo é deixar de desejar para si até mesmo coisas abstratas como poder, conhecimento, amor, felicidade ou fama; porque, afinal de contas, elas são todas egoístas.

A própria vida ensina essas lições; porque todos esses objetos de desejos tornam-se frutos do Mar Morto no momento em que são alcançados. Isto nós aprendemos por experiência própria. A percepção intuitiva captura a verdade positiva de que a satisfação é alcançável só no infinito; a vontade torna essa convicção um fato real na consciência, até que, afinal, todo desejo está centrado no que é Eterno. [2]

3. Trechos de “Ísis Sem Véu”

* Eliphas Levi, o mago moderno, descreve a luz astral na seguinte frase: “Dissemos que para adquirir o poder mágico duas coisas são necessárias: libertar a vontade de toda escravidão, e usá-la sob controle.” [3]

* A vontade cria, pois a vontade em movimento é energia, e a energia produz matéria. [4]

4. Fragmentos de Textos Diversos

[Citações selecionadas de vários volumes de “Collected Writings” de H. P. Blavatsky.  Ao final de cada trecho, indicamos o volume e a página.] 

* Mesmo admitindo que a vontade do ser humano não seja a causa direta de efeitos magnéticos,  ainda assim, como assinala o senhor Donato, o célebre magnetizador de Paris, a vontade “influencia e dirige muitas forças misteriosas na natureza, das quais a ciência desconhece até a existência”. (Vol. II, p. 282.)

* …Será que o nosso amigo supõe que algum Adepto chegou alguma vez a esta condição sem vencer todos os obstáculos interiores pela pura força da VONTADE e pela FORÇA DA ALMA? Um tal adeptado seria uma mera farsa. “UM ADEPTO NÃO É FEITO, MAS FAZ A SI MESMO”, era o lema dos antigos rosacruzes.  (Vol. III, p. 28.) 

* O AMOR, quando é autenticamente altruísta e está  unificado com a VONTADE, é um “poder” em si mesmo. ( Vol. IX, p. 286.) 

* A regularidade na vida consiste de regularidade na fala e na ação, e estes não podem existir separados da regularidade no pensamento e no sentimento. Em Teosofia Prática, portanto, é necessário que estas cinco condições coexistam,  isto é: PENSAMENTO CORRETO, SENTIMENTO CORRETO, PALAVRA CORRETA, AÇÃO CORRETA, VIDA CORRETA.  (Vol. XII, p. 213.)

* A oração e a contemplação, combinados ao ascetismo, são os melhores instrumentos de disciplina para tornar-se um Teurgista, quando não há uma iniciação regular. Porque a intensa oração pela realização de algum objetivo é apenas uma intensa vontade e um intenso desejo, o que resulta em Magia inconsciente. (Vol. XIV, p. 116.)

* O coronel Olcott [5] nunca foi um ateu “que nós saibamos”, mas um budista esotérico, que rejeita a ideia de um Deus pessoal.  A oração autêntica - isto é,  o exercício da nossa  intensa vontade sobre os eventos (normalmente provocados pelo acaso cego), com a meta de determinar a sua  direção, tampouco foi jamais algo rejeitado por ele. Até mesmo as orações tal como são normalmente entendidas, não são “rejeitadas” por ele, mas simplesmente consideradas inúteis, quando não são absurdas e ridículas, como no caso de orações para parar ou para provocar chuvas, etc. Ao usar a  palavra “oração” ele quer dizer - VONTADE, o desejo ou comando expresso magneticamente de que tal e  tal coisa benéfica para nós ou para outros venha a ocorrer.  (Vol. IV, pp. 519-520.)

NOTAS:

[1] O fragmento “A Vontade e o Desejo” é traduzido de “Collected Writings”, H. P. Blavatsky, T.P.H., Adyar, Índia, volume VIII, p. 109.

[2] O “O Desejo Purificado” é reproduzido da obra “Conversas na Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline, Edifurb, SC, 2007, p. 101. Fonte em inglês: “Collected Writings”, H. P. Blavatsky, T.P.H., Adyar, volume VIII, p. 129.

[3] “Ísis Sem Véu”, H. P. Blavatsky, Ed. Pensamento, Volume I, p. 210. Após verificar a edição original em inglês (Theosophy Co., volume I, p. 137),   corrigimos um pequeno erro de tradução.

[4] “Ísis Sem Véu”, H. P. Blavatsky, Ed. Pensamento, Volume I, p. 212. Após verificar a edição original em inglês (Theosophy Co., volume I, p. 140),  corrigimos um pequeno erro de tradução. Neste contexto, o termos inglês “force” corresponde a “energia”, em português.  

[5] Alusão a Henry S. Olcott, cofundador do movimento teosófico em 1875, em Nova Iorque, ao lado de Helena P. Blavatsky e William Q. Judge.


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Para conhecer um diálogo documentado com a sabedoria de grandes pensadores dos últimos 2500 anos, leia o livro “Conversas na Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline. 


Com 28 capítulos e 170 páginas, a obra foi publicada em 2007 pela editora da Universidade de Blumenau, Edifurb. 

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