27 de setembro de 2012

A Palavra dos Mahatmas

Onze Trechos das Cartas dos
Mestres, Para Refletir e Meditar

Carlos Cardoso Aveline (Ed.)


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Nota Editorial:

O texto a seguir reúne trechos selecionados da
coletânea “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”
(Editora Teosófica, Brasília, 2001, dois volumes). Ao
final de cada citação, indicamos entre parênteses o número
do volume e o número da página em que estão as palavras
citadas. Acrescentamos subtítulos, entre colchetes, antes de
cada fragmento, e notas explicativas numeradas quando necessário.

(CCA)

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[1. O Motivo do Silêncio dos Mestres.]

Se por várias gerações temos “impossibilitado o mundo de ter Conhecimento do nosso Conhecimento”, foi devido ao seu absoluto despreparo; e se, apesar das provas dadas, o mundo ainda se negar a aceitar as evidências, então nós, no final deste ciclo, nos retiraremos outra vez à solidão e ao nosso reino do silêncio...  (I, 128) [1]

[2. Construindo uma Torre de Pensamento Infinito.]

Por incontáveis gerações os adeptos vêm construindo um templo de rochas imperecíveis, uma Torre gigantesca de PENSAMENTO INFINITO, onde o Titã morava, e onde, se for necessário, voltará a morar solitário, saindo dela somente no final de cada ciclo, para convidar os eleitos da humanidade a cooperarem com ele e o auxiliarem por sua vez a iluminar o homem supersticioso. E continuaremos nesse nosso trabalho periódico; e não deixaremos de lado as nossas intenções filantrópicas até aquele dia em que os alicerces de um novo continente de pensamento estejam tão firmemente consolidados que nenhuma opressão ou maldade ignorante, guiada pelos Irmãos das Sombras, possa prevalecer. (I, 129)

[3. A Sabedoria Não Está nas Palavras.]

Na Ciência Oculta os segredos não podem ser transmitidos subitamente, mediante uma comunicação escrita, nem mesmo oral. Se fosse assim, tudo o que os “Irmãos” [2] teriam que fazer seria publicar um Manual de Instruções que poderia ser ensinado nas escolas, ao lado da gramática. É um erro comum das pessoas acreditarem que nós nos envolvemos, e envolvemos os nossos poderes, em mistério por vontade nossa; que desejamos manter nosso conhecimento para nós mesmos, e que por nossa própria vontade nos recusamos a transmiti-lo - “deliberadamente e de modo irresponsável”. A verdade é que, até que o neófito atinja a condição necessária para aquele grau de Iluminação para o qual ele está qualificado e apto, a maior parte dos segredos, se não todos eles, é incomunicável. A receptividade deve ser tão grande quanto o desejo de instruir. A iluminação deve vir de dentro. Até lá, nenhum truque de encantamento ou jogo de aparências, nem palestras ou discussões metafísicas, e tampouco penitências autoimpostas, podem dar essa iluminação. Todos estes são apenas meios para um fim, e a única coisa que podemos fazer é dirigir o uso destes meios, que, como foi comprovado pela experiência das idades, levam ao objetivo buscado. E há milhares de anos que isto não é segredo. Jejum, meditação, castidade em pensamento, palavra e ação; silêncio durante certos períodos de tempo para permitir que a própria natureza fale a quem se aproxima dela em busca de informação; domínio das paixões e impulsos animais; completa ausência de egoísmo nas intenções, e o uso de certo incenso e certas fumigações com objetivos fisiológicos, têm sido apontados como instrumentos desde a época de Platão e Jâmblico, no Ocidente, e desde os tempos ainda mais remotos de nossos Rishis hindus. A maneira como tudo isso deve ser posto em prática de modo que seja adequado para cada temperamento, é, naturalmente, tema de experimentação da própria pessoa e da cuidadosa observação de seu tutor ou guru. Isso é de fato uma parte do seu aprendizado, e seu guru ou iniciador só pode ajudá-lo com a sua experiência e força de vontade, mas não pode fazer nada mais que isso, até a última e suprema iniciação. Penso também que poucos candidatos imaginam o grau não só de desconforto, mas de sofrimento e sacrifício, a que o mencionado iniciador se submete pelo bem do seu discípulo. As condições específicas, físicas, morais e intelectuais, de neófitos e Adeptos são muito diferentes, como qualquer pessoa pode compreender facilmente. Assim, em cada caso, o instrutor tem que adaptar as suas condições às do discípulo, e a tensão é terrível, pois para conseguir êxito temos que nos colocar em plena sintonia com o indivíduo em treinamento. E quanto maiores os poderes do Adepto, menos ele está em simpatia com a natureza do profano, que, com frequência, vem até ele saturado com as emanações do mundo exterior, aquelas emanações animais da multidão egoísta e brutal que tanto tememos; quanto mais afastado o instrutor se encontra desse mundo e quanto mais puro se tenha tornado, tanto mais difícil é a tarefa a que se impõe. Além disso, o conhecimento só pode ser comunicado gradualmente; e alguns dos segredos mais elevados, se fossem expressados, mesmo a seus ouvidos bem preparados, poderiam soar a você como um palavrório insano, apesar de toda a sinceridade de sua atual convicção de que “a confiança absoluta desafia a incompreensão”. Esta é a causa verdadeira da nossa reserva. É por isso que as pessoas se queixam tão frequentemente, com uma demonstração plausível de razão, de que nenhum conhecimento novo lhes é comunicado, apesar de terem estado se esforçando por ele, dois, três ou mais anos. Aqueles que realmente desejam aprender devem abandonar tudo e vir até nós, em vez de pedir ou esperar que nós avancemos até eles. Mas como isso pode ser feito em seu mundo e sua atmosfera? (I, 134-135)

[4. É Impossível Fazer uma Transmissão Súbita de Conhecimento.]

Como posso expressar ideias para as quais até agora você não conhece palavras? As mentes mais refinadas e sensíveis, como a sua, recebem mais que as outras, e mesmo quando estas últimas recebem uma pequena dose extra, esta se perde pela falta de palavras e imagens que fixem as ideias flutuantes. Talvez, e indubitavelmente, você não saiba a que me refiro agora, mas saberá um dia - paciência. Dar a um homem mais conhecimento do que ele está capacitado para receber é uma experiência perigosa, e, além disso, há outras considerações que me limitam. A comunicação súbita de fatos que transcendem tanto o comum é em muitos casos fatal, não só para o neófito, mas também para os que o rodeiam. (I, 136)

[5. Há uma Relação Simétrica Entre o Esforço do Mestre e o Esforço do Discípulo.]

Resumindo: o mau uso do conhecimento pelo discípulo sempre reage sobre o iniciador, e nem creio que você saiba que, ao compartir os seus segredos com alguém, o Adepto, devido a uma Lei imutável, retarda o seu progresso para o Repouso Eterno. Talvez o que digo agora possa ajudá-lo a obter uma concepção mais verdadeira das coisas, e a avaliar melhor a nossa posição mútua. Vagar ociosamente pelo caminho não conduz a uma rápida chegada ao fim da jornada. E deve soar a você como uma verdade evidente que alguém deve pagar um preço por tudo e por qualquer verdade, e, nesse caso – NÓS pagamos. Não tenha medo; estou disposto a pagar a minha parte, e disse isto aos que me colocaram a questão. Não o abandonarei, nem me mostrarei menos disposto ao sacrifício que a pobre e depauperada mortal que chamamos de “Velha Senhora”[3]. (I, 136-137)

[6. A Verdade Não Necessita de Deuses ou Anjos.]

A Verdade se sustentará sem a inspiração de Deuses ou Espíritos, e melhor ainda, se sustentará apesar deles; os “anjos” em geral não fazem mais que sussurrar falsidades e aumentar a quantidade de superstições. (I, 140)

[7. Mestres Julgam os Seres Humanos Pelas Suas Intenções.]

Nós, asiáticos semisselvagens, julgamos um homem pelas suas intenções e as suas são todas sinceras e boas. Mas você tem que lembrar que está numa escola muito dura, e tratando agora com um mundo inteiramente diferente do seu. Especialmente, você tem que ter em mente que a mais leve causa produzida, mesmo inconscientemente e com qualquer intenção, não pode ser desfeita, nem é possível interceptar o progresso dos seus efeitos - nem com a força combinada de milhões de deuses, demônios e homens. (I, 141)

[8. Um Lustrador de Botas Honesto é Tão Bom Quanto um Rei Honesto.]

…Para nós um lustrador de botas honesto é tão bom quanto um rei honesto, e (...) um varredor de ruas imoral é muito melhor e mais desculpável do que um imperador imoral... (I, 158)

[9. Todo Sábio Deixa de Lado Dor e Prazer Pessoais.]

... Lembrem que a primeira exigência, mesmo para um simples faquir, é que ele deve ter treinado a si mesmo até saber permanecer indiferente tanto à dor moral como ao sofrimento físico. Nada pode causar, em NÓS, dor ou prazer pessoais. (I, 159)

[10. O Ceticismo em Torno dos Mestres Garante a Paz Deles.]

Gostaria de poder imprimir em suas mentes uma profunda convicção de que não desejamos que o sr. Hume ou você provem conclusivamente ao público que nós realmente existimos. Por favor, compreenda o fato de que, enquanto os homens duvidarem, haverá curiosidade e pesquisa, e que a pesquisa estimula a reflexão, que gera o esforço; mas, uma vez que o nosso segredo tenha sido completamente vulgarizado, não só a sociedade cética não terá grandes benefícios, como também a nossa privacidade estaria constantemente em perigo e teria que ser resguardada a um custo irracional de energia. (.....) Ah, Sahibs, Sahibs! Se vocês pudessem pelo menos catalogar-nos, rotular-nos e colocar-nos no Museu Britânico, então de fato o seu mundo poderia ter a verdade absoluta, a verdade dissecada. (I, 162-163)

[11. Dogmatismo Religioso é Incompatível Com Teosofia.]

O que temos nós, discípulos dos verdadeiros Arhats, do Budismo esotérico e de Sang gyas, a ver com os Shastras [4] e o Brahmanismo ortodoxo? Há 100 milhares de faquires, sannyasis e sadhus levando vidas totalmente puras e, entretanto, porque estão no caminho do erro, nunca tiveram uma oportunidade de nos encontrar, de nos ver ou sequer ouvir falar de nós. Os antepassados deles expulsaram da Índia os seguidores da única filosofia verdadeira existente sobre a terra [5], e agora não são estes que irão até eles, mas eles é que devem vir até nós se o quiserem.  Quem entre eles está disposto a se tornar um budista, um Nastika [6], como eles nos chamam? Ninguém. Aqueles que acreditaram em nós e nos seguiram obtiveram a sua recompensa. Os senhores Sinnett e Hume são exceções. As suas crenças não são barreiras para nós, pois não têm nenhuma. Eles podem ter tido influências ao seu redor, más emanações magnéticas resultantes da bebida, da sociedade mundana e de associações físicas promíscuas (resultantes até mesmo de apertar a mão de homens impuros); mas todos esses impedimentos são físicos e materiais, aos quais podemos nos opor com um pequeno esforço, e mesmo eliminá-los sem muito esforço para nós. Mas é diferente com o magnetismo e os resultados invisíveis produzidos por crenças errôneas e sinceras. [7] A fé em Deuses ou em Deus e outras superstições atraem milhões de influências alheias, entidades vivas e poderosos agentes para perto das pessoas, e nos veríamos obrigados a usar algo mais que o exercício comum de poder para afastá-los. Nós decidimos não fazê-lo. Não consideramos necessário nem proveitoso perder o nosso tempo travando uma guerra com planetários atrasados que se deliciam personificando deuses e, às vezes, personagens famosos que viveram na terra. (I, 165-166)

NOTAS:

[1] O “final do ciclo” ocorreu entre os anos 1897 e 1900. Em 1897 completaram-se os primeiros 5.000 anos do Kali Yuga. Em 1900 houve a passagem para a Era de Aquário. A missão de Helena Blavatsky, feita sob a coordenação dos Mestres, preparou estes dois eventos. (CCA)

[2] “Irmãos”, isto é, Adeptos, Mahatmas, Mestres. (CCA)

[3] “Velha Senhora”: H. P. Blavatsky. (CCA)

[4] “Shastras” - Escrituras sagradas do hinduísmo. (Nota da ed. bras. das Cartas)

[5] Menção ao fato de que, na antiguidade, os hindus ortodoxos expulsaram os budistas da Índia. Já no século 20, o líder indiano Mohandas “Mahatma” Gandhi, cuja filosofia é amplamente teosófica, foi assassinado a sangue frio em 1948 por um hindu ortodoxo radical.  (CCA)

[6] “Nastika” - Ateu, ou alguém que não reconhece deuses e ídolos. (Nota da ed. bras. das Cartas)

[7] Para os Mestres, mais importante que a pureza meramente física é a intenção do indivíduo, conforme foi dito em trecho citado antes. O fanatismo fecha a porta para a verdade e acaba em hipocrisia. Este princípio é ilustrado no Novo Testamento através do modo como Jesus enfrenta os escribas e fariseus. Veja por exemplo João, 8: 1-11, e Mateus, 23: 13-29.  (CCA)

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O texto acima é reproduzido da edição de março de 2012 do boletim “O Teosofista”. A ortografia foi atualizada.  

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Para conhecer um diálogo documentado com a sabedoria de grandes pensadores dos últimos 2500 anos, leia o livro “Conversas na Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline.


Com 28 capítulos e 170 páginas, a obra foi publicada em 2007 pela editora da Universidade de Blumenau, Edifurb.  

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