2 de outubro de 2012

Francisco, o Santo Panteísta

Lendas Franciscanas
Ensinam a Unidade de Todos os Seres

Carlos Cardoso Aveline

Símbolo da defesa dos animais, Francisco (1181-1226) chamava
de irmãos o sol, a lua, o fogo, a água, o vento, a terra e todos os seres  



As antigas lendas sobre santos, sábios e heróis são formas de ensinar cuja eficácia parece crescer à medida que passa o tempo. Elas falam diretamente à alma. Elas transmitem informação ao hemisfério cerebral direito, que funciona como instrumento da experiência mística na consciência humana.

Tais narrativas devem ser reconhecidas e valorizadas como lendas: não é correto encará-las como verdadeiras num sentido literal.

A prática mais modesta da biografia documentada é recente. O que se ganha com ela em documentação material perde-se, às vezes, em profundidade. Nem todos são capazes de conciliar a linguagem da alma com uma documentação correta e verificável.  

Há milênios a história das vidas dos grandes instrutores religiosos tem sido quase sempre lendária. Seu significado não é óbvio. Para a filosofia esotérica, as vidas de sábios como Cristo, Osíris, Buddha, Krishna, Lao-tzu ou Zoroastro são exemplos de linguagem simbólica. Elas devem ser lidas em profundidade, e Francisco de Assis, o santo do século 13, está longe de ser uma exceção. A lenda franciscana transmite lições universais, que podem ser colocadas criativamente em prática pelos habitantes do século 21.

Espírito Vivo Transcende Especulações  

Quando vamos além da letra morta, percebemos a unidade essencial entre os diferentes campos de conhecimento. Cada religião ou filosofia pode ensinar algo valioso à alma humana, mas nenhuma delas é suficiente em si mesma. O espírito da sabedoria está acima das divisões e especulações intelectuais. Francisco de Assis mandou carta a Antônio de Pádua pedindo que ensinasse teologia aos irmãos, “contanto que este estudo não extinga o espírito da santa oração e da devoção”. [1]

A ideia constitui um axioma central em filosofia esotérica. É imprescindível estudar os aspectos teóricos da teosofia original, e eles são fascinantes; mas Helena Blavatsky escreveu: “teosofista é aquele que age teosoficamente”. Na ausência de uma devoção sincera à causa da humanidade, o discurso “espiritualizado” pode fazer mais mal do que bem. A silenciosa contemplação interior das verdades universais é necessária. A prática diária do ensinamento é igualmente decisiva. Este é um dos pontos em que Francisco bate na mesma tecla que a filosofia esotérica. No documento “Palavras de Santa Exortação a Todos os Irmãos”, ele afirma:

A letra mata, mas o espírito vivifica (2 Cor 3:6). São mortos pela letra os que tão-somente querem saber as palavras, a fim de parecer mais sábios que os outros e poder adquirir grandes riquezas e dá-las aos parentes e amigos. (.....) São porém vivificados pelo espírito das Sagradas Escrituras aqueles que tratam de penetrar mais a fundo em cada letra que conhecem, e não atribuem o seu saber ao próprio eu, mas pela palavra e pelo exemplo o restituem a Deus...” [2]

Cabe examinar o que significa a palavra “Deus”. Cada religião, cada igreja e até cada crente individual fabrica Deus à sua própria imagem e semelhança. Para a filosofia esotérica, porém, não existe qualquer coisa semelhante a um deus monoteísta. Há, em todas as dimensões do cosmo infinito, uma imensa pluralidade de energias e inteligências divinas.  

A Lei Universal ou Lei do Carma rege o universo inteiro. Toda a Natureza é sagrada, e Francisco parece ter percebido este fato intuitivamente. Embora tenha procurado manter-se obediente às instituições autoritárias da Idade Média, as suas inclinações teosóficas e panteístas são evidentes, e são profundas.  

Nossa Senhora, a Pobreza

Uma imagem de Santa Clara


Pouco antes de morrer, Francisco fez algumas recomendações finais no chamado Testamento de Sena. Ali aparece o conceito de “Nossa Senhora, dona Pobreza”. O sábio afirma:

“Abençoo a todos os meus irmãos, tanto os que estão na Ordem agora como os que nela entrarem até o fim do mundo. E como por causa da minha fraqueza e de meus sofrimentos já não lhes posso falar muito, quero elucidar em três frases a todos os meus irmãos atuais e futuros qual o meu propósito e meu querer, a saber: que em sinal de minha memória, de minha bênção e de nossa aliança sempre se amem como eu os tenho amado e ainda amo; que guardem sempre amor e fidelidade a nossa senhora dona Pobreza; que sempre se mantenham submissos e prontos a servir aos prelados e clérigos da Santa Mãe Igreja.” [3]

Na tradição franciscana, Clara é a figura feminina que complementa o santo. Ela é uma personificação da pobreza mística, isto é, do desapego em relação a situações materiais.

Embora obedecer externamente à Igreja fosse essencial para a sobrevivência do trabalho franciscano, a divindade feminina da sua Ordem dos Frades Menores é “dona Pobreza”, isto é, a simplicidade voluntária, o despojamento. O contraste é profundo com a igreja, cujos clérigos e bispos viviam no luxo material, em meio à extrema pobreza do povo. 

Descontadas as aparências, a verdade é que Francisco estava lutando de modo não-violento contra a corrupção do clero. Ele também não acreditava em obediência cega.  Considerado por alguns um precursor da Reforma de Lutero, o santo de Assis afirmou:

“Se (.....) um dos ministros mandar a um irmão algo que for contrário ao nosso gênero de vida ou à sua alma, o irmão não estará obrigado a obedecer-lhe. Pois não haverá obediência onde se cometer uma falta ou um pecado. E mais, todos os irmãos que forem súditos dos ministros e servos observem com diligente atenção o que fazem os ministros e servos. E se acaso virem que um deles vive segundo a carne e não espiritualmente, conforme corresponde à retidão de nosso gênero de vida, tratem de adverti-lo por três vezes. Se apesar disso não se emendar, deverão denunciá-lo (.....) ao ministro geral de toda a fraternidade, sem deixar-se intimidar por contradição alguma.”[4]

Acostumado a enfrentar pressões do alto clero corrupto, Francisco estabeleceu em seu testamento para as irmãs de Santa Clara:

“Peço a vocês, senhoras minhas, e dou-lhes o conselho de que vivam sempre esta santíssima vida de pobreza. E evitem cuidadosamente afastarem-se dela nem pela doutrina nem pelo conselho de quem quer que seja.” [5]

Evitando a Escravização Pelo Dinheiro

A fonte deste retrato de Francisco é Tomás de
Celano, seu contemporâneo e seu primeiro biógrafo 


Não se pode calcular em dólares o valor de uma vida humana. Tampouco é possível comprar ou vender conhecimento sagrado, ou felicidade. Ninguém encontra Ética nas estantes dos supermercados. Quando uma sociedade se ergue até o nível em que a sabedoria universal é compreendida, as pessoas vivem segundo valores mais importantes que notas de papel emitidas por bancos centrais.

Na Idade Média, a influência do dinheiro era menor do que no século 21. Muitas relações sociais não eram intermediadas pela moeda, e podemos ler estas palavras de Francisco no item quatro da “Regra Definitiva da Ordem dos Frades Menores”:

“Ordeno severamente a todos os irmãos que de modo algum aceitem moedas ou dinheiro, nem por si nem por pessoa intermediária. Mesmo para prover as necessidades dos irmãos enfermos ou vestir os demais irmãos, só os ministros e custódios tomem solicitamente as devidas providências, inclusive recorrendo a amigos espirituais, e levando em conta as condições de lugar, de tempo e de clima, conforme a seu critério melhor convier à necessidade - salvo sempre, como já ficou dito, que não aceitem moedas ou dinheiro.”[6]

Francisco era severo com a deslealdade. Depois de proibir a aceitação de dinheiro, ele propôs na Regra Não-Aprovada, um texto em que o ideal franciscano brilha sem mutilações:

“E se mesmo assim acontecer (.....) que algum irmão ajunte ou possua dinheiro ou moedas (.....), todos nós irmãos vamos considerá-lo como falso irmão e como apóstata, como gatuno e como ladrão, e mais, como aquele que carrega a bolsa [Judas Iscariotes].” [7]

Algumas Lições para o Século 21

Embora a proibição do uso de dinheiro não possa ser aplicada literalmente no século 21, há várias lições práticas a serem extraídas da ideia que inspirou as palavras de Francisco.

O bom senso ensina que é necessário valorizar o trabalho solidário e voluntário. As pessoas bem informadas têm o dever de promover a opção pela vida simples, pela superação do consumismo ecologicamente irresponsável e pela prática da ajuda mútua entre os cidadãos, sem intermediação de moeda.

Deve-se perceber aquilo que tem mais valor que o dinheiro. É recomendável estabelecer a diferença entre o trabalho, de um lado, e a busca do dinheiro, de outro. As duas coisas não estão necessariamente juntas. O trabalho altruísta é uma forma de oração. A busca de dinheiro, em alguns casos, é o seu oposto. 

A proposta franciscana aponta para a economia solidária do futuro. Ela propõe relações econômicas e sociais ecologicamente corretas, voltadas para o bem-estar de todos os seres e não para o enriquecimento pessoal deste ou daquele. A prática do franciscanismo original contrastava frontalmente com a corrupção do alto clero no final da idade média, e ainda contrasta hoje com o luxo do Vaticano.

Nas décadas seguintes à morte do sábio de Assis, o Vaticano perseguiu sem dó ou piedade os franciscanos mais radicais e os partidários do Evangelho Eterno, que seguiam a visão de fraternidade universal partilhada por Joachim de Fiore.

Trabalho ou Ociosidade

O trabalho é sagrado. O esforço criador e construtivo é fonte de felicidade, e a Regra Definitiva dos franciscanos estabelece:

“Aqueles irmãos que do Senhor receberam a graça de poder trabalhar, trabalhem com fidelidade e dedicação, de modo a afugentar o ócio, inimigo da alma, sem contudo perder o espírito da santa oração e devoção, ao qual devem subordinar-se todos os demais assuntos temporais. Como salário do trabalho podem receber para si e seus irmãos o necessário para sustentar a vida, exceto moedas ou dinheiro, e isto com humildade, conforme convém a servos de Deus e seguidores da mais santa pobreza.” [8]

Vivendo na Idade Média, Francisco usava com naturalidade o termo “diabo”. Na realidade, esta palavra é apenas uma personificação simbólica daquele nível de ignorância humana acumulada que se resiste ativamente ao aprendizado espiritual. A ignorância que visa eternizar-se existe subconscientemente. Como todo mau hábito, ela luta pela sua preservação, e é capaz de usar uma astúcia traiçoeira tanto no plano individual como no âmbito coletivo. O trabalho altruísta - conhecido no Oriente pelo nome de Carma Ioga – é uma arma eficaz contra este inimigo do peregrino espiritual. Assim, a Regra Não-Aprovada dos franciscanos recomenda:

“Todos os irmãos se esforcem seriamente em praticar boas obras, pois está escrito: ‘Vê se estás sempre empenhado em praticar alguma boa obra, para que o diabo te encontre ocupado’; e ainda: ‘A ociosidade é inimiga da alma’.” [9]

O Usufruto do Universo Pertence a Todos

Há uma simetria inevitável no Universo. A cada renúncia externa corresponde uma aquisição interna, e vice-versa. Em consequência disso, é morrendo para a vida material que se nasce para a vida espiritual. E Francisco recomendou:

“Os irmãos não adquiram propriedade de coisa alguma, nem de casa, nem de residência, nem de outra coisa qualquer. E como peregrinos e forasteiros neste mundo, servindo a Deus em pobreza e humildade, peçam esmola com confiança, nem se envergonhem disso, pois o Senhor se fez pobre por nós neste mundo (2Cor: 8,9). É nisto que consiste a sublimidade dessa extrema pobreza, que transforma vocês, caríssimos irmãos, em herdeiros e reis do reino dos céus, e os torna pobres de bens, mas nobres de virtudes (Tiago, 2:5).” [10]

O “reino dos céus” é uma imagem simbólica, que representa os níveis superiores de consciência. O mundo do espírito é cósmico. Um trecho de uma regra desaparecida da ordem franciscana afirma que os frades menores “nada querem possuir sob o céu senão a santa pobreza, por meio da qual o Senhor os alimenta neste século com alimento corporal e possuirão no século futuro a herança celestial”.[11] 

A ausência de posses não produz apenas uma recompensa futura, mas é fonte de felicidade e libertação imediatas. O pensador francês Ernest Renan, que identificou-se pessoalmente com o ideal franciscano, escreveu no século 19:

“Assim como o patriarca de Assis, atravessei o mundo sem apegar-me seriamente ao mundo, mas - ouso dizer - na situação de simples locatário. Nós dois, sem nada termos que seja nosso, somos ricos. A divindade nos deu o usufruto do universo, e estamos contentes por desfrutá-lo sem posse.”[12]

A Lenda do Lobo

A força da renúncia desperta o poder da unidade com todos os seres, e a lenda franciscana mostra numerosos exemplos deste fato. Conta a tradição que um lobo de grande porte aterrorizava o condado italiano de Gúbbio, devorando tanto animais como seres humanos. Ninguém mais tinha coragem de sair da cidade, quando Francisco foi à procura do animal. Ao vê-lo, o santo fez o sinal da cruz, concentrou-se mentalmente e disse:

“Venha cá, irmão lobo”.

O lobo aproximou-se de Francisco como um cordeiro e lançou-se aos seus pés.

Francisco deu-lhe uma ordem em nome de Cristo para que parasse de perseguir as pessoas. Fez um elaborado discurso ao lobo, enumerando um a um os seus erros. Finalmente, estabeleceu as condições de uma paz futura entre o animal e os habitantes do condado.

O lobo respondeu com humildade, fazendo sinal afirmativo com a cabeça. Prestou juramento solene, e prometeu nunca mais atacar pessoas. Em troca disso, o santo anunciou que os habitantes da cidade lhe dariam o alimento necessário para sua sobrevivência. Francisco selou o acordo apertando a mão do lobo. [13]

Para os mais diferentes povos, o lobo é, desde a antiguidade, um símbolo das paixões animais que perseguem os seres humanos menos sábios e “devoram” tudo o que veem pela frente.

Maldade Não é Mau Carma Para Quem a Sofre

Os desinformados pensam que o egoísta e o mentiroso prejudicam de fato suas vítimas.

Desde um ponto de vista teosófico, porém, a maldade e a injustiça prejudicam sobretudo quem as comete. Também neste caso, o desapego e a atenção fazem a diferença. A vítima só é seriamente prejudicada quando se apega ao sofrimento, ou quando reage com um ódio cego e um rancor primário. Francisco, que possuía bom senso, fez registrar na Regra Não-Aprovada:

“E saibam que a humilhação não é imputada aos que a sofrem, mas aos que a infligem.”[14]

Em outro trecho ele cita Mateus, 5:10-12:

“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, insultarem e perseguirem, e vos expulsarem e escarnecerem, e injuriarem vosso nome como réprobos, e falsamente disserem contra vós todo gênero de maldade, por minha causa.” [15] 

Jesus, o autor simbólico destas palavras, representa o Caminho. 

Aquele que trilha o Caminho da ética e da sabedoria pode ser desprezado no mundo, porque sua vida segue uma lógica que não é compreensível desde o ponto de vista do materialista. No entanto, o sofrimento causado pela incompreensão é fonte de mais aprendizado. Em última instância, todo o sofrimento “probatório” do aprendiz culmina na felicidade incondicional que emerge da sabedoria consolidada.

Os materialistas, em compensação, trilham o verdadeiro caminho do sofrimento. A obra “I Fioretti”, uma coletânea de lendas franciscanas, ensina este princípio teosófico:  

“Muitas dores terá o homem mísero, o qual põe o seu desejo nas coisas terrenas, pelas quais abandona e perde as celestes, e finalmente perderá também as terrenas. A águia voa muito alto, mas se tivesse algum peso ligado às asas, não poderia voar muito alto; e assim o homem, pelo peso das coisas terrenas, não pode voar ao alto, isto é, não pode chegar à perfeição; mas o homem sábio, que prende o peso da lembrança da morte e do julgamento [16] às asas do seu coração, não pode, pelo seu grande temor, discorrer nem voar para a vaidade nem para os bens deste mundo, que lhe são causa de danação”. [17]

O Cântico do Sol: uma Oração Panteísta

O manifesto mais vigoroso da filosofia franciscana é o Cântico do Sol. Baseado em grande parte no testemunho de gratidão aos deuses que faz parte de uma obra clássica de Xenofonte, “Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates” [18], o Cântico é uma prova indiscutível das raízes panteístas da mais elevada mística cristã.

Assim como a tradição esotérica, o franciscanismo ensina a comunhão imediata com todos os seres, sem a intermediação burocrática da missa, de uma igreja, ou de sacerdotes. O planeta inteiro é um templo, e a presença divina está em todas as partes. 

A teosofia ensina a unidade de todos os seres


Segundo a lenda, o Cântico do Sol foi composto por Francisco pouco antes de morrer. A oração é nominalmente dirigida ao Senhor Deus dos católicos; porém esta aparente personalização do princípio divino universal faz parte de um enfoque panteísta em que também o sol, a água, a lua e outros elementos da natureza são personalizados e chamados de irmãos.

Para a teosofia de Helena Blavatsky, assim como para o cristianismo de Francisco, não há coisa alguma destituída de vida ou inteligência no universo. As forças naturais estão unidas a cada ser humano por laços de uma afinidade sutil mas incondicional. Nas Cartas dos Mahatmas, é possível encontrar estas palavras de um sábio dos Himalaias: 

“A natureza uniu todas as partes do seu império por meio de fios sutis de simpatia magnética, e há uma relação mútua até mesmo entre uma estrela e o homem...” [19]

Este princípio da filosofia oriental é desenvolvido em forma de oração no Cântico do Sol:

Louvado sejas, meu Senhor,
com todas as tuas criaturas,
especialmente o senhor irmão Sol,
pois ele é dia
e nos ilumina por si.

E ele é belo e radiante com grande esplendor.
E porta teu sinal, ó Altíssimo.

Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã Lua e as estrelas;
no céu as formaste luminosas
e preciosas e belas.

Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão vento e o ar e as nuvens,
e o céu sereno e toda espécie de tempo
pelo qual às tuas criaturas dás sustento.

Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão fogo,
pelo qual iluminas a noite;
e ele é belo e alegre
e vigoroso e forte.

Louvado sejas, meu Senhor,
por nossa irmã e mãe terra,
que nos alimenta e governa
e produz variados frutos
e coloridas flores e ervas.

Louvado sejas, meu Senhor,
por nossa irmã, a morte corporal
da qual ninguém pode escapar.
Ai daqueles que morrem em pecado mortal. [20]
Felizes os que estão na tua santíssima vontade,
que a morte segunda não lhes fará mal. [21]

Oitocentos anos depois da vida biológica do sábio de Assis, a visão franciscana da vida é uma ponte dinâmica da tradição cristã com outras religiões, e com a filosofia universal.

As lições que ele deixou constituem um dos aspectos em que o cristianismo se ergue até o nível da antiga teosofia do Oriente, e ensina a prática da fraternidade sem fronteiras que marcará a civilização do futuro.


NOTAS:

[1] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 1979, 289 pp., ver p. 162.

[2] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, Editora Vozes, p. 142.

[3] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 117.

[4] “Regra Não-Aprovada”, publicada no volume “São Francisco de Assis”,  Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 1991,  1.372 pp., ver p. 144.

[5] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, obra citada, p. 111.

[6] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, obra citada, p. 102.

[7] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 76.

[8] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, mesma p. 102.

[9] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 75.

[10] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 103.

[11] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 96.

[12] “Nouvelles Études D’Histoire Religieuse”. Ernest Renan, 1884, Calmann-Lévy, Editeurs, 533 pp., ver pp. III-IV. 

[13] “I Fioretti”, Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, sétima edição, 1985, 254 pp., ver pp. 59-62. 

[14] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 77. 

[15] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 83.

[16] Julgamento; esotericamente, o “julgamento” do cristianismo convencional simboliza o início do processo pós-morte. Através dele é definido o rumo da alma durante todo o processo entre duas vidas físicas, isto é, até a próxima encarnação. A qualidade deste longo processo entre duas vidas depende da qualidade ética das ações da alma durante a vida física.

[17] “I Fioretti”, Ed. Vozes, sétima edição, 1985, 254 pp., ver p. 231.

[18] Veja o capítulo III do Livro IV da obra “Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates”, incluída no volume “Sócrates”, coleção “Os Pensadores”, Nova Cultural, Círculo do Livro S.A., 1996, 303 pp., pp. 175-177. O tema é abordado também no capítulo dedicado a Sócrates de meu livro “Conversas na Biblioteca”, Edifurb, 2007, 170 pp., ver pp. 18-22. A obra contém um capítulo dedicado ao santo de Assis (ver pp. 47-53). 

[19] “Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica, Brasília, 2001, Carta 47, Volume I, pp. 217-218. 

[20] “Morrer em pecado mortal”. Esotericamente, essa expressão significa concluir a encarnação enquanto há um contato nulo, ou insuficiente, entre a alma mortal e a alma imortal. Assim, quando ocorre a “segunda morte” - a morte astral - a consciência do indivíduo não se transfere para o eu superior e não tem lugar a vivência do “Devachan”, o “local dos deuses”; na linguagem cristã, a alma não vai para o “paraíso”, antes de reencarnar.  

[21] Conforme sugere o verso final, os que estão de acordo com a vontade divina do seu próprio eu superior nada têm a temer com a “segunda morte”, a morte astral. Quando ela ocorre, a consciência se transfere para o nível superior, o local divino ou “paraíso individual”, tecnicamente chamado de “Devachan” em teosofia.

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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.

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