13 de março de 2014

A Voz da Consciência

Transcendendo o Sofrimento Humano

Farias Brito

Raimundo de Farias Brito



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Nota Editorial:

O pensador cearense Farias Brito (1862-1917)
é um dos principais filósofos brasileiros e sua
obra apresenta diversos pontos em comum com
a filosofia esotérica. Entre os seus livros mais
conhecidos estão “A Base Física do Espírito”,
“O Mundo Interior” e “A Verdade Como
Regra das Ações”.  Dono de um horizonte
mental amplo, aberto ao estudo das filosofias
orientais, Raimundo Farias Brito também
colocou sua visão filosófica em forma de versos.

(Carlos Cardoso Aveline)

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A Voz da Consciência


Quando vê-se o medonho, escuro cataclismo
Que agita a natureza e abala a humanidade;
O céu - sombra e mistério, a terra feita abismo,
Arrastada no lodo a flor da liberdade;

Quando vê-se que a lei é o grito do canhão,
Que o mundo é um oceano, um mar de tiranias,
Que a natureza é um caos, e a vida um turbilhão,
De múltiplo sentir, de eternas agonias;

O sol torna-se negro, o céu faz-se sombrio,
E põe-se um vento forte e gélido a soprar,
E a vasta natureza então treme de frio
Contendo no seu seio a escuridão do mar.

Contudo há uma luz na densa escuridão,
Do abismo universal - é a lei do sentimento.
E ergue-se da noite a doce compaixão
E sai da sombra um astro - o eterno pensamento.

E logo a consciência exclama aos contendores
Das lutas do futuro em voz potente e forte,
A fronte a se inundar nos vastos esplendores
Da grande natureza e os pés por sobre a morte:

“Eu sou feita de luz e feita de verdade
E tenho mais poder  que o sol abrasador.
Nasci da luz do céu, meu corpo é a humanidade;
Tenho por lei o bem, por ideal o amor.

Para o bem tenho o olhar das coisas mansas, boas;
Para o mal tenho o ferro agudo das espadas.
São todas para vós, para vós minhas coroas,
Almas filhas do bem, almas abençoadas.

Só há uma ciência - é a voz da natureza.
Meu sonho é só de amor, meu pensamento é puro.
Escuridão e luz! ...  Imensa profundeza!
Ó noite, és o passado. Ó luz, és o futuro!”

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O poema acima, “A Voz da Consciência”, é reproduzido do volume “Inéditos e Dispersos - Notas e Variações sobre Assuntos Diversos”, de Farias Brito, compilação de Carlos Lopes de Mattos, Editorial Grijalbo Ltda., São Paulo, 1966, 550 pp., ver pp. 524-525.

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